Há quase 25 anos, Campinas perdia seu VLT

Quem acha que Santos ou Rio de Janeiro foram as primeiras cidades a terem um sistema de VLT – Veículo Leve Sobre Trilhos, está enganado. A primeira a cidade a ganhar o meio de transporte foi Campinas.

Esta historia começa nos anos 1970, quando a FEPASA iniciava obras do Corredor de exportação Santos-Uberaba, que atravessariam a região de Campinas. Com a retificação da ferrovia, cerca de 42 km de linhas utilizadas anteriormente pelas ferrovias Sorocabana e Mogiana seriam desativadas em 1977.

Já na década de 90, o então prefeito Jacó Bittar procuraria o governo do estado, sendo retomado o projeto de um VLT. O governador Orestes Quércia colocaria o projeto sob responsabilidade da FEPASA. As construções seriam iniciadas em tempo recorde, antes mesmo da conclusão dos estudos preliminares. Entre a licitação e a inauguração do primeiro trecho, se passaram apenas quatro meses. A licitação para a realização de obras foi vencida pela construtora Mendes Junior.

As obras do VLT foram iniciadas em julho de 1990, antes mesmo de receberem verbas oficiais do governo do estado. Em agosto, o governo do estado realizaria cerimônia oficial de inauguração das obras. Foram usados 6 VLT’s Articulado 68, utilizados no pré-metrô do Rio, e que naquele momento estavam parados por falta de peças nas oficinas da empresa carioca. Foi um empréstimo da estatal carioca para o governo paulista.

O primeiro trecho do VLT foi inaugurado pelo governador Quércia em 23 de novembro de 1990, o que gerou acusações de uso eleitoral da obra, que estava coberta de propagandas de Luiz Antônio Fleury Filho, candidato de Quércia ao estado.

Posteriormente outros dois trechos foram entregues até 1993, e marcaria o fim do período de testes do VLT. Até aquele momento, cerca de 7 mil passageiros utilizam o sistema, já que não era cobrada a tarifa. Com a cobrança de passagens, a demanda cairia para cerca de 4 mil passageiros por dia, muito abaixo dos 20 mil passageiros diários estimados pela FEPASA, quando autoridades afirmavam que o início de cobrança aliado a falta de integração do mesmo com os ônibus municipais levaria o sistema ao colapso.

Posteriormente, a FEPASA assinaria acordo onde operaria o sistema de transporte por 2 anos e depois transferiria a operação e manutenção do sistema para a prefeitura de Campinas.

Com o final da gestão de Bittar, o novo prefeito de Campinas, José Roberto Magalhães Teixeira, se recusou a cumprir o acordo de transferência do VLT por não concordar com a implantação do meio de transporte, com suspeitas de corrupção, e que necessitava um grande aporte de subsídios.

Então, a FEPASA acabou repassando a gestão do sistema VLT para a construtora Mendes Junior, mediante pagamento de R$ 700 mil mensais por parte da estatal.

Até aquele momento, o VLT de Campinas operava com duas composições e intervalo de 15 minutos. Com 7,9 quilômetros de extensão, 8 estações e uma frota de 6 trens, transportava cerca de 4 mil passageiros por dia. A linha sul ligava Campos Elíseos até a estação Central.

Com o prejuízo mensal de R$ 510 mil gerado à Mendes Junior por conta da operação deficitária, a FEPASA anunciaria que o sistema VLT seria desativado em 17 de fevereiro de 1995. A desativação causou a demissão de 150 funcionários, que estavam com salários atrasados após a falta de repasses da estatal à Mendes Junior ter deixado uma dívida de US$ 7 milhões. Após a desativação, a FEPASA tentou vender o sistema, mas jamais conseguiu compradores. Com o fim da estatal paulista em 1998, o VLT passou ao abandono, tendo suas estações e trens depredados e vandalizadas.

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.